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Brasileiros não parecem desejar mudanças políticas, mas empresários estão preocupados

Jonathan Wheatley e John Paul Rathbone

Em São Paulo e no Rio de Janeiro

  • Roberto Stuckert Filho/Divulgação

    A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, toma café em padaria da cidade de São Gonçalo (RJ)

    A candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, toma café em padaria da cidade de São Gonçalo (RJ)

Em um almoço concedido nesta semana a alguns dos empresários brasileiros mais famosos, o anfitrião perguntou a meia dúzia de executivos de grandes companhias nacionais e estrangeiras como estavam indo os seus negócios. As respostas de todos foram idênticas: “Estão indo muito bem”. Mas quando lhes foi perguntado o que eles desejariam do próximo governo do Brasil, que deverá ser eleito no próximo domingo, eles apresentaram uma lista de tópicos que precisam de atenção urgente, incluindo a decrépita infraestrutura do país, o confuso e regressivo sistema fiscal e a péssima qualidade da educação. E eles não acreditam que haverá muito progresso em nenhuma dessas áreas. é por isso que muitos empresários encaram a esperada vitória de Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, uma agremiação de esquerda, com uma mistura de otimismo e apreensão. Ela é a sucessora escolhida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está no poder desde janeiro de 2003 e que conta com um índice de aprovação popular de 80% - algo quase que inédito em se tratando de um líder há tanto tempo na presidência. Lula da Silva foi eleito com uma plataforma que prometia mudanças. O seu predecessor, Fernando Henrique Cardoso, havia conquistado a inflação, saneado as finanças estatais e o sistema bancário, promovido reformas institucionais duradoras e implementado melhorias transformadoras em serviços como as telecomunicações, por meio das privatizações. No entanto, ele tinha também promovido uma caótica desvalorização da moeda e um racionamento de energia elétrica. Os brasileiros, cansados do “neoliberalismo”, decidiram que Lula da Silva, que fora rejeitado nas três eleições anteriores, finalmente merecia a sua chance. Porém, em vez de mudanças, Lula da Silva optou pela continuidade, mantendo intactos os pilares da macroestabilidade econômica, gastando mais com novos programas sociais e surfando uma onda de novas condições globais, liderada pela demanda explosiva de alimentos e commodities industriais por parte da China, algo que se tornou subitamente favorável ao Brasil. O índice de emprego e a renda dispararam, no decorrer dos últimos cinco anos 33 milhões de pessoas ingressaram na classe média e o crescimento econômico deste ano poderá chegar a 8% - provocado cada vez mais por uma vibrante economia doméstica que, segundo muitos acreditam, está mais protegida do que a de qualquer outro país comparável ao Brasil da ameaça de uma nova recessão global. Mas os problemas estruturais mencionados no almoço desta semana significam que o índice potencial e não inflacionário de crescimento do Brasil está provavelmente mais próximo de 4,5%. Na verdade, isso é mais do que aquilo com que muitos brasileiros estão acostumados – de 1993 a 2003 o crescimento médio anual foi de 2,5%. E os assessores econômicos de Dilma Rousseff afirmam que um crescimento de 4,5% por ano é mais do que suficiente para atender às necessidades do Brasil, possibilitando melhorias graduais, mas significativas, da infraestrutura e dos serviços públicos, sem a necessidade de reformas fiscais politicamente difíceis além de alguns ajustes referentes aos impostos e outras questões. Críticos dessa postura afirmam que o Brasil precisa de uma reforma fiscal bastante ampla, a fim de tornar os negócios mais competitivos e reduzir a necessidade de empréstimos do governo – uma necessidade tão grande que provoca um efeito de deslocamento dos empréstimos do setor privado e que significa que a taxa de juros overnight do Banco Central é de atualmente 10,75% ao ano, com taxas de mercado que são múltiplos desse índice. Muitos críticos estão também preocupados quanto a um aumento recente da dívida total do setor público e a expansão do papel desempenhado pelo Estado na economia, uma tendência que eles temem que possa se intensificar em um governo Dilma Rousseff. O problema com que se deparam os defensores das reformas é que, comparado a vários países do mundo, especialmente os desenvolvidos, as questões de ordem fiscal do Brasil não são muito urgentes. Os brasileiros têm todos os motivos para votar pela continuidade no domingo. Mas o significado de tal decisão e as suas consequências não são tão claras.  

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